A história do martelo de percussão

Isabella Lins Alencar

Em 1945, o professor Wartenberg, neurologista mundialmente famoso, declarou em seu livro The Examination of Reflexes que “o teste de reflexos e sua avaliação adequada, sem dúvida, constituem a parte mais importante do exame neurológico”. A história do martelo de reflexos é indissociável das descobertas da percussão e da utilidade clínica da pesquisa dos reflexos, sendo uma ferramenta primeiro “descoberta” meados de 1760 e consagrada em exames neurológicos no século 19.

Pioneiro na descrição da percussão torácica, o austríaco Leopold Auenbrugger se baseou na observação dos vinhateiros, que reverberavam os barris de vinho para saber o nível do líquido. Em 1826, Pierre Adolphe Piorry inventa um aparelho destinado a aplicar a percussão, o plexímetro, e em 1828, o médico escocês David Barry desenvolve o primeiro martelo de percussão a ser usado no plexímetro, invenção considerada na época supérflua e impopular. Apenas em 1841 se populariza o martelo de percussão criado pelo alemão Max A. Wintrich, e, motivado por publicações de 1875 descrevendo a utilização do martelo para pesquisar reflexos de estiramento muscular, Ebstein em 1912 produz um novo modelo, destinado a pesquisar os reflexos e a sensibilidade, os quais passam a ser produzidos em escala comercial.

A partir da popularização, inventa-se uma série de martelos semiológicos: uns em forma de L, outros em T, semelhantes a machados de guerra ou a varinhas de condão, cabos de madeira, ébano, marfim, osso de baleia, latão, e cabeças de borracha, chumbo, latão ou revestidas de veludo. Nos EUA, foram desenvolvidos dois modelos: o primeiro em 1888 por John Madison Taylor, propagado com a introdução do sistema de graduação do reflexo patelar de Silas Weir Mitchell, e o segundo por William C. Krauss, que incorporou dispositivos para testar a temperatura e as sensações de toque. O primeiro martelo com duas cabeças de percussão surgiu apenas em 1910 por Ernst Trömner, sendo a cabeça maior destinada a tendões extensores e a menor, a tendões flexores, e simultaneamente no mesmo ano, Bernhard Berliner desenvolve na Alemanha um modelo com a cabeça mais pesada e superfície de impacto maior. Apenas em 1912, na França, Joseph J. F. F. Babinski desenvolveu dois martelos: um deles com uma cabeça em forma de disco com um anel de borracha na borda, e outro de mesma composição, porém em formato retangular. Pouco depois, em 1920, Abraham Rabiner modificou um dos martelos de Babinski, tornando a sua cabeça articulável, permitindo a sua utilização paralela ou perpendicular ao cabo – modelo conhecido como martelo de Babinski-Rabiner.

Sobre a importância clínica, Wilhelm Heinrich Erb em 1870 é o primeiro a reconhecer a utilidade do martelo nos reflexos miotáticos, simultâneo a Carl Westphal, que descreve a utilização do indicador sob o dedo médio para percutir o tendão rotuliano. A partir daí, com a criação posterior de cerca de 400 modelos diferentes, a utilização e preferência de cada modelo passa a ser fortemente influenciada pela opinião pessoal do médico neurologista, pelo hospital no qual ele trabalha, por qual região ele se encontra, por qual reflexo é de interesse a ser pesquisado, e outras relevâncias semiológicas.

Em suma, sabe-se que uma vasta gama de martelos de reflexo está disponível hoje em dia, embora muitos dos modelos originais não sejam mais comercializados, e reconhecida a importância da percussão no exame neurológico, a escolha de um martelo é deixada para o neurologista, visto que nenhum modelo único provou ser superior aos outros.

Referências Bibliográficas

DINIZ, C. et al. History and national survey on reflex hammers: which is the chosen one of Brazilian neurologists, v. 81, n. 4, p. 340–344, 1 abr. 2023.
PINTO, F. História do Martelo de Reflexos. n.1. ed. Sinapse: Sociedade Portuguesa de Neurologia, n.2, v.7; 2007.

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